28-03-2011 05:34

Líbios

 O que você tem lido nos jornais?

Guerras. Desde o começo do ano, parece que acenderam um fósforo e lançaram sobre um barril de petróleo chamado “mundo árabe”. Agora é a vez da Líbia. Ao que tudo indica Kadhafi está com os dias contados, é apenas uma questão de tempo, haja vista que algumas das maiores potências militares resolveram entrar em cena e libertar a Líbia das mãos do tal tirano.

Como entender este conflito? Os especialistas propõem análises diferentes sobre o ocorrido, as vezes até antagônicas. Há quem defenda estes movimentos árabes populares, por entenderem que é legítimo que um povo lute pela liberdade de escolha de seus governantes. Outros dirão que este momento é extremamente perigoso para a estabilidade política e militar mundial, uma vez que troca-se um ditador por uma ditadura religiosa, o islã assumirá o poder em todas estas nações. Talvez seja por isso que, um terceiro grupo apontará que, os Estados Unidos não se apressaram em invadir a Líbia, sabedores de que Kadhafi, para eles, é um mal necessário.

Para aqueles que costumam entender que o mundo se resume a uma questão econômica, esta invasão ocorre simplesmente pela necessidade de se controlar as grandes fontes mundiais de energia fóssil, daí se explica a invasão do Iraque e agora a tentativa de controlar a Líbia. Deste grupo, sairá alertas como: cuidado Brasil, eles estão de olho no pré-sal.

O islamismo é visto pelo Ocidente pela ótica da Irmandade Muçulmana, organização islâmica fundamentalista acusada de ser a mãe de diversos movimentos terroristas muçulmanos, como o Hamas. Imagens de mulheres de burca e apedrejamento rondam o nosso imaginário, quando pensamos em islamismo, daí a dificuldade dos ocidentais, historicamente cristãos, se posicionarem quanto aos últimos ocorridos.

Entendo na verdade, que acontecimentos históricos como este não se resumem a apenas um único fato ou evento, mas deve ser visto como um mosaico, onde todas as cores pintadas acima, e tantas outras que ainda não são facilmente distinguíveis, colaboram para a construção da realidade que se expressa tão violenta.

Proponho então, uma rápida reflexão. Quero te desafiar a pensar na argamassa que une todos estes fragmentos do mosaico, o povo líbio. Faça um esforço de transculturação e imagine-se por um instante como um líbio. O que estaria passando em sua mente? Eu respondi: angústia.

Em meio a tantas incertezas, conflitos civis, ataques aéreos, repressão, fome, dor, uma ditadura, ideal democrático, movimento religioso, interesses econômicos, estão os líbios. E eles? Onde estão as notícias nos jornais? Iremos tratá-los apenas como números? Estatísticas de final de guerra, para saber se este conflito superou em mortes o anterior?

Serei contido em expressar aquilo que imagino daquele povo, neste momento; o quanto sofrem. Quero que você construa o seu entendimento, a sua impressão e não fique com a minha. Mas quero deixar aqui uma crítica a nós, Humanidade, e ao órgão que nos representa (ou que deveria), a Organização das Nações Unidas – ONU. Até quando a Terra será vista como um tabuleiro de xadrez, onde as peças se movimentam segundo interesses daqueles que a controlam e a morte de um peão é benéfica se o jogo for vencido?

É necessário que a Humanidade seja despida de seus preconceitos e do jogo de interesses, para que o ser humano seja valorizado em sua essência. Entendo por isso, que quando a Geografia se propõe a estudar as relações do Homem consigo mesmo e com o espaço, é para que o homem comum e cosmopolita, seja integrado plenamente a sua humanidade, sem distorções.

Mário Fioranelli

Professor de Geografia

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