A Farsa da Revolta dos Eletrodomésticos - Mudando de Nome - Danielle Takase - 2ºE
O menino era gordinho, sardento e pirracento. Crescera ouvindo da mãe dizer que ele fora um acidente. Ele sempre vira a si mesmo como um estorvo – no começo se martirizava, mas agora tomou gosto por ser um castigo. Para sumir com suas tristezas devora qualquer junky food que não só estimula sua hiperatividade como também aumenta gradativamente seu corpanzil. O único jeito de perder calorias é na caminhada que levava da tevê até o computador – não mais. Agora tem tudo no seu quarto. Será que os movimentos dos dedos descontrolados no joystick e teclado gastam calorias ou só causam síndrome por movimento repetitivo? Creio que não.
Já a progesterona andante se contenta com uma maçã por dia. Apesar que duas folhas de alface é um item bastante requisitado nesse cardápio – de anorexia nervosa. Parece perigoso, mas acalmem-se, é passageiro. Essa rotina alimentar precária é recente. Coisa de dois dias. Sábia decisão tomada após o término de seu relacionamento – o relacionamento de número 29 – relacionamentos que duravam semanas, dias, noites... – e tinham acabado de trocar alianças, vejam só! A décima primeira aliança. Ela tinha um cofrinho – de lata, pequeno corte em cima – no qual não havia moedas. O tilintar metálico lá dentro dá-se aos dez – agora, onze – anéis de compromisso. Quanto compromisso. Exige responsabilidade e maturidade, não chore, criança... Esteja certa de que em breve aparecerá o décimo segundo tilintar, o décimo terceiro, o trigésimo romance; tudo questão de números.
Fisicamente era bem diferente de seu irmão, de sua mãe, de seu pai. Corria o boato de que não era filha do pai. "Mas qual! Ela é adotada!". Boatos. Aliás, talvez seja importante ressaltar que ele fora o motivo do casamento precoce de seus pais. A grávida adolescente e o garanhão incontrolável, um relacionamento repleto de desamores e culpas e acusações e (des)obrigações. Divórcio depois do acidente... Enfim! Voltando ao assunto: ela. Desesperados apelos por atenção refletiam-se na cor, no corte ou na falta de cabelo. Engraçada a vez que aparecera de careca reluzente, puro capricho. Mas o cabelo chanel azul não lhe caia tão mal. No momento é (está? to be nessas horas resolveria meus problemas) de um desbotado com camadas coloridas. Um horror, se quer saber. Seu sedentarismo não é dos piores. Usa o computador basicamente para gerenciar seus perfis em algumas (muitas) redes sociais – todos aqueles estrangeirismos que puderem imaginar. É lá que encontrou a carta/ideologia de suas amigas Ana e Mia, amigas essas que vocês não vão gostar de conhecer. Anorexia e bulimia. Sua mãe não percebera ainda. O irmão a apoiava com palavras amigas: "De que adianta isso? Pior você não pode ficar." – ao término da frase uma risada estridente e maligna. Na verdade eles não deveriam mesmo se preocupar, do jeito que é fraca logo desistiria e iria para um outro modismo qualquer – próximo passo: criar uma banda? Possível.